Um lugar maravilhoso chamado sentido

A Alma é tão inquieta.
Nunca lhe fica bem.

Constantemente ela está à procura de algo.
Um dia quer isto, no dia seguinte quer aquilo.
Para trás e para a frente, salta e diz: “Quero,  quero, quero!”
“Como seria bom se… oh, eu quero tanto, tanto….
e tudo seria muito melhor com isso!”
Por vezes, são objectos como livros, roupas ou brinquedos que ela deseja.
Por vezes, sonha com guloseimas e quer petiscar sem parar!
Por vezes, é atraída para o mundo e quer  aventura e apenas diversão e brincadeira.
Mas, na maioria das vezes, é de sentimentos que ela anda à procura.
Quer sentir-se pequena e fofa, como um ursinho de peluche.
Depois, quer saber muito, idealmente tudo ao mesmo tempo!
Sim, a nossa Alma, ela deseja muito, muito, muito!
Só o silêncio… que nunca encontra.

Há dias em que ela diz para si própria: desta vez é diferente.
Eu procuro a maior, a melhor e a mais linda coisa
e então serei feliz e nunca mais precisarei de procurar nada.
Mas assim que consegue o que estava a desejar, sente-se um pouco deslocada.
De alguma forma, sente que a coisa que recebeu não é o que afinal quer.
Está a faltar alguma coisa.

Um dia, quando Alma está de novo a acalmar a sua inquietude,
quase tropeça no Sr. Tartaruga, que se instalou
no meio do caminho de um campo.
Alma pára, espantada.
O Sr. Tartaruga quase não parece estar a mexer-se.
Porque é que ele faria uma coisa destas?
Alma não percebe nada disso.
“Sr. Tartaruga”, diz ela tão pacientemente quanto pode, “o que está a fazer?

“Estou a caminho”, diz o Sr. Tartaruga com um sorriso.
“Mas a este peço nunca lá chegarás!”, grita Alma surpreendida.
O Sr. Tartaruga responde calmamente: “Tudo depende do sítio para onde vais”.
Agora a Alma salta numa perna e grita:
“Sim, mas diz-me, Sr. Tartaruga, para onde vai a viagem?”

Com passos pequenos mas concentrados, o Sr. Tartaruga avança lentamente,
sorri e murmura: “Sentido”.
Alma pára, perplexa, e olha para o Sr. Tartaruga.
Isto demora muito tempo, porque o Sr. Tartaruga é mesmo muito lento.
Mas Alma, tão surpreendida, nem dá pelo tempo passar.

“”Sentido? Onde é este lugar, Sentido?”


A curiosidade não larga Alma nem por um segundo.
Mesmo no dia seguinte, ela reflecte e apercebe-se:
“Tenho de encontrar o Sr. Tartaruga e perguntar-lhe outra vez.
Irei na mesma direção e, quando o encontrar, perguntar-lhe-ei novamente o caminho”.
Porque, secretamente, Alma espera que este lugar maravilhoso chamado Sentido seja, de facto, a única coisa que ela sempre procurou sem se aperceber.

Marcha durante algum tempo e logo vê um mar à sua direita. Selvagem e tempestuoso, desafiante e um pouco assustador, é essa a sua primeira impressão.

Mas com confiança no seu coração, ela prossegue.
Envolve-se no ritmo desconhecido do mar
e, de vez em quando, brinca à apanhada com as ondas.

E depois, de forma inesperada, Alma encontra-se na estepe encantadora.
Toca suavemente as ervas e os arbustos macios com a ponta dos dedos
enquanto se passeia por eles.
As extensões de silêncio tocam-na profundamente.

Alma salta alegremente sobre os lagos pouco profundos,
refresca-se nos riachos tranquilos e
Maravilha-se amorosamente com o verde luxuriante da natureza que a rodeia.
Inspira e expira profundamente. Tudo parece novo para ela.

Ela vagueia alegremente pelo bosque
e nem sequer se apercebe de como está escuro dentro da floresta.
Esgueira-se por entre as árvores e apercebe-se
que ela própria é a luz que ilumina o seu caminho.
Agora a escuridão já não é escuridão para ela.

Assim que sai do bosque, Alma chega a um
um jardim de rosas reais. Fica encantada com a beleza das rosas.
Alma decide levar esta beleza na sua mente a partir de agora
para a poder apreciar todos os dias.
Basta-lhe fechar os olhos e ver o esplendor maravilhoso que tem diante de si.

A noite cai e Alma está num campo enorme.
Ela quer descansar ali.
Só quando se deita para dormir
vê o firmamento cintilante por cima dela.
Nunca tinha visto uma noite tão estrelada!
E com esta alegria, Alma adormece suavemente na terra dos sonhos.

Alma acorda de manhã e fica surpreendida com o milagre que se segue.
O céu está cor-de-rosa e lentamente, com cuidado,
ela vê o sol a nascer.
Sente uma calma maravilhosa dentro de si.

Alma senta-se em silêncio e maravilha-se com este nascer do sol encantador.

E no momento em que o sol toma orgulhosamente o seu lugar
Alma repara subitamente numa figura verde que repousa a poucos metros dela.
O Sr. Tartaruga!
“Sr. Tartaruga!” chama Alma, já a tropeçar em direção ao Sr. Tartaruga.
“Sr. Tartaruga! Finalmente vejo-o de novo!
Diz-me, por favor, chegámos ao nosso destino?
É este o sítio chamado Sentido?”

Ele ri-se afetuosamente. Pois cala-se.
E Alma também. Ambos olham para o céu em silêncio.
Passado algum tempo, o Sr. Tartaruga diz:
“Minha querida Alma. Estás a olhar para o sítio certo.
Mas ainda não está a olhar na direção certa”.
“Na vossa viagem, viram todos os lugares bonitos, e estiveste sempre rodeado por esta magia.
Mas e se esse lugar chamado significado não estiver no mundo à tua volta mundo à tua volta, mas… dentro de ti?”

Alma parece surpreendida!
“Em mim?
O sentido está em mim?”
Alma fecha os olhos de espanto
e tenta olhar para dentro de si.

Depois sorri.
O Sr. Tartaruga acena com a cabeça.


E assim sentam-se os dois a apreciar
este sítio maravilhoso chamado sentido.